Almoço do self-service durante um dia de trabalho. Por que
não usufruir daquele empadão de frango, da picanha e da mousse de chocolate que
estão ali ao alcance das mãos? Festa de aniversário do amigo. Por que não se
deliciar com mais um pedaço daquele bolo com cobertura de brigadeiro que alguém
oferece? Pizza do domingo. Por que desperdiçar os dois pedaços que sobram na
forma?
A resposta para todas essas questões é: prazer. Todos somos
movidos a querer repetir de novo e de novo as experiências que nos trazem esta
maravilhosa sensação de bem-estar e plenitude. Desde que nascemos, associamos a
comida a algo que vai além da função de sobrevivência, mas também a um momento
de grande prazer, com inúmeros estímulos aos nossos sentidos.
Juntando-se a isso, vivemos nos dias de hoje em uma cultura
que nos estimula a buscar o prazer pela comida constantemente, com um
bombardeio de mensagens publicitárias em todos os lugares que estamos, e com a
disponibilidade de comida a todo momento do dia e da noite. Não é a toa que
muitos de nós perdemos a guerra para o exagero na hora de se alimentar. Se
pararmos para pensar que lutamos contra as poderosas forças do instinto de
sobrevivência e da busca do prazer, percebemos que a força de vontade e a velha
máxima de "fechar a boca" pouco podem fazer por nós para evitar que
sejamos vítimas desta compulsão.
O problema em si
Não se pode dizer que beliscar é o mesmo que ter compulsão
alimentar - aquela fome exagerada em que uma pessoa é capaz de consumir cerca
de 2.000 calorias em meia hora. "O petisco intermitente é um vício de
comportamento, quase sempre ligado a momentos específicos", analisa a
endocrinologista Fernanda D'Elia, de São Paulo. Tem gente que come quando vê
tevê, está sozinha ou ainda no trabalho, diante do computador.
Os horários também influenciam. É no final da tarde que os
níveis de serotonina despencam, fazendo a vontade de comer uma coisinha gostosa
dominar nossos instintos. Então, para não dar vazão ao desejo, uma dica é
tentar visualizar cada momento de tentação e entender os motivos que os
desencadearam. Para isso, anote tudo o que consome. "Escreva o horário, a
quantidade de comida, com quem estava e qual era o ambiente. Assim dá para
perceber muita coisa em relação aos fatores que levaram àquela atitude e tentar
cortar o mal pela raiz", aponta Arthur Kaufman. "É fundamental querer
mudar a rotina, caso contrário só mesmo uma psicoterapia resolve", diz o
expert.
Conclusão: apesar de ser um processo difícil, é possível,
sim, livrar-se da mania de petiscar a toda hora. Basta identificar o porquê de
tanta comilança e traçar metas que ajudam a eliminar o problema. Para resistir,
tem que ter muita disciplina e vontade de mudar.
Causas
As causas desse transtorno
são desconhecidas. Em torno de 50% das pessoas têm uma história de depressão.
Se a depressão é causa ou efeito do transtorno, ainda não está bem claro.
Muitas pessoas relatam que a raiva, a tristeza, o tédio, a ansiedade e outros
sentimentos negativos podem desencadear os episódios de comilança. Embora não
esteja claro o papel das dietas nesses quadros, sabe-se que, em muitos casos,
os regimes excessivamente restritivos podem piorar o transtorno.
Tratamento
O transtorno do comer
compulsivo desenvolve-se a partir da interação de diversos fatores
predisponentes biológicos, familiares, socioculturais e individuais. O seu
tratamento exige uma abordagem multidisciplinar que inclui um psiquiatra, um
endocrinologista, uma nutricionista e um psicólogo. O objetivo do tratamento é
o controle dos episódios de comer compulsivo através de técnicas cognitivo-comportamentais
e de um acompanhamento nutricional para restabelecer um hábito alimentar mais
saudável. A psicoterapia dinâmica ou a interpessoal podem ajudar o paciente a
lidar com questões emocionais subjacentes. O acompanhamento clínico faz-se necessário
pelos riscos clínicos da obesidade. As medicações antidepressivas têm se
mostrado eficazes para diminuir os episódios de compulsão alimentar e os
sintomas depressivos.
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